PEDACIM DE TERRA - Então, caipira leitor. Nós, aqui do interior[rrr], temos uma mania interessante de querer possuir um "pedacim de terra pra mó de podê prantá mio, mandioca e fejão". Assim também era Juvenildo, morador do interior do Pará. Juvenildo não tinha onde cair morto... desde a época dos garimpos, no final da zicada década de 80, ele procurava comprar a sua terrinha. E aí começa sua história.

A incrível história de Juvenildo, o maior latifundiário do Brasil.
Uma parábola [política] em um ato só, porque tenho preguiça de escrever...

Final de 1988... com a nova Constituição brasileira - garantindo um salário mínimo que atende o básico, como alimentação, moradia, vestuário, lazer, o carro do ano, a viagem pra Argentina e otras cositas más, Juvenildo se animou. Largou o Movimento dos Sem-Terra. Casou-se de verdade com a Henriqueta, filha do português dono da padaria do garimpo. E se mudou pra mais uma das cidades fantasmas marginais ao lamaçal chamado pomposamente de Transamazônica...

Juvenildo era persistente, e nunca desistiu de seus sonhos. Sonhos estes, movidos à carvão, que tirava impunemente da mata nativa. Na verdade, tirava com apoio da sociedade... até que um lindo dia, a mata acabou. E Juvenildo ficou com um pasto. Criou algumas cabeças de gado, até que a erosão dominou aquela terra pobre em nutrientes. Nem capim nascia ali. E com seus 14 filhos, e já dois netos - as meninas mais velhas tinham engravidado ano passado - passou a ter dificuldades para sustentar a casa. Isso até que...

Não, Juvenildo não moreu. Naquele cafundó onde Judas perdera o solado das botas, e morrera de febre amarela, não havia onde cair morto, nem trabalhar. Exceto na prefeitura mantida com repasses do Governo Federal. Isso, nos idos de 1995. Juvenildo se tornou funcionário público, por provar que sabia a diferença entre Deputado e Prefeito; e o "Niltinho", como ficara conhecido, era o típico "Jeca-Tatu" de repartição. Falava quase nada, acatava tudo. Mas um dia, sua sorte mudou.

Apareceu o sobrinho do prefeito, vereador [qualquer relação entre os poderes é MERA coincidência]. E ofereceu ao Niltinho R$ 5000,00 para que ele assinasse um papel. Niltinho "carcou" seu polegar direito numa velha almofada para carimbos e "assinou". Agora, teria sua casinha melhorada, numa época em que cinco mil reais eram dinheiro suficiente. E, após sua reforma, Juvenildo se esqueceu de tudo isso. Até que saiu a notícia...

Em 2009, pleno século XXI, descobrem no cartório de sua cidade um velho documento. Juvenildo se foi em 2007, vítima da silicose pega no garimpo. Tinha 52 anos. Mas, apesar de morrer cedo, deixou à Henriqueta do seu Manoel uma herança grandiosa. Metade do Brasil.
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Placa na entrada da cidade de Juvenildo
"Aqui também é Brasil!"
Créditos: 100eira nem beira, legal o blog.
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RIP, Juvenildo. Essa história é só pra ilustrar os absurdos que ocorrem por aí. Como essa notícia, divulgada ontem. Metade do Brasil!!! Apesar dessa história ser ABSOLUTAMENTE INVENTADA, ela é plausível. Niltinho é mais um dos queridos "laranjas" brasileiros. Que se venderam sem saber. E morreram sem saber. E o sobrinho do prefeito... hoje deve ser Senador. Nada a declarar, pois ele se lixa para a opinião pública. E mais uma vez, a corrupção se alastra, e grilagens como essa continuam acontecendo.

É o Brasil, né? Contente-se!

Até a volta,
Expectatore.

"Power corrupts only the few because only the few have power." - Leonid S. Sukhorukov, All About Everything (2005)

2 comentários:

Mutante disse...

Viva o "Braziu"!

2010 tem copa do mundo, todo mundo dirá "Aqui é BRASIL, porra!!!"

Durante um mês todo mundo irá esquecer dos vários problemas atuais, trocando-os por "muito orgulho e muito amor."

Abraço Tatore, ExpecTatore.

Expectatore disse...

Braziu iu iu!!!!

Vamos construir trens-bala... e ver se empregamos bastantes parentes nessa joça toda. Tô meio besta aqui após 5 dias sem net, mas tudo bem.

Abraço, Mr. M. [ é fantástico! ]

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